Andei passando os olhos em uns livros de poetas novos, e no fim estou triste. Gostaria de saber se minha impressão é justa, ou se apenas acontece que estou ficando velho. A verdade é que, em sua maioria, esses novos quase sempre me deixam frio. Estou desconfiado. Lembro-me dos amantes da poesia parnasiana declarando não achar poesia nenhuma nos versos dos melhores poetas modernos. Será o mesmo caso?

Peço licença para desconfiar que não. Se entre esses poetas mais moços alguns, embora ainda não plenamente, já demonstram algum valor positivo e uma certa força, que pode muito bem crescer, a verdade é que a maioria me deixa bastante gelado. Não sei o nome que os técnicos em literatura dão a esse tipo de nova poética. Trata-se de poemas formalmente bem feitos, em geral curtos, escritos com visível inteligência e inegável bom gosto. São, muitas vezes, um tanto herméticos. Certamente exprimem alguma coisa, ou sugerem; mas é raríssimo encontrar um verdadeiro poder de emoção. São poemas, se me permitem a expressão (que vai no sentido mais trivial) “distintos”. Bem-comportados, sem o menor derrame ou cafajestismo, arrumadinhos e discretos.

Parece que esses poetas se preocupam muito em “condensar”, mas nem sempre têm o que. São poemas de gentlemen, escritos certamente com um nobre pudor e uma sábia economia de palavras. Às vezes lembram certas coisas do simbolismo; às vezes lembram os parnasianos; mas são sempre, decididamente, antirromânticos. Muitos desses poetas dão a impressão de que, se fossem pintores, seriam medíocres imitadores de Braque.

Há, certamente, poetas novos que não são assim. Há alguns mais incontidos: um tipo de surrealismo com tinturas românticas e pequenos tresloucamentos líricos, que às vezes parecem gratuitos. O número dos “distintos” é, entretanto, cada dia maior.

O caso não é, sem dúvida, apenas brasileiro; tanta distinção só poderia ser importada. O que me pergunto é se esses poetas são assim mesmo, ou se há, entre eles, alguns de mais força prejudicados pela moda poética.

A verdade é que eles não me dão, a mim, homem vulgar, o que peça a outros poetas: aquela mistura de música, embriaguez, tristeza, sentimento do belo, apoio moral que a gente precisa de vez em quando, e precisa tanto.

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