Fonte: Toda crônica. Apresentação e notas de Beatriz Resende; organização de Rachel Valença. Rio de Janeiro, Agir, 2004, vol. II, p.182. Publicada, originalmente, na revista Careta, de 22/05/1920 e, posteriormente, no livro Marginália, Mérito, 1953, p.104.
Os empregados dos bancos de Berlim declararam-se em grève.
Está aí uma grève para muita gente bastante sem significação. Eu, por exemplo, nunca tive a mínima ideia da serventia de um banco.
Para mim, tal instituição como muitas outras cousas, são absolutamente coisas quiméricas.
Por isso, fico sempre muito admirado que toda a gente peça bancos para o desenvolvimento do país.
Eu não sei por quê, nem para quê
Não são só os bancos cuja existência acho inútil. Há outras cousas, entre as quais posso citar assim de pronto: as joias, as representações no Municipal, além dos navios transatlânticos, que levam os homens felizes e os revolucionários estrangeiros para a Europa.
Muito tem demais o mundo, para minha existência; mas nem por isso deixo de apreciar o supérfluo nos outros.
O banco, porém, é que não vejo em mim nem nos outros das minhas relações.
O único que conheci foi o dos funcionários públicos, mas esse não me deixou boas recordações.
Agora, porém, os de Berlim, por intermédio de seus empregados, por terem aderido ao socialismo, anarquismo ou cousa que valha, estão empregando também a malsinada grève.
Não me compete censurá-los por isso, pois o uso da grève generaliza-se em todas as profissões; o que me parece, porém, é que essa grève só pode interessar os capitalistas e, certamente, esses não estarão dispostos a dar o seu apoio a essa arma com que os guerreiam os seus inimigos.
Essa grève vai resultar inútil, daí pode ser que não e até concorra muito para a solução da questão social.
Veremos...