A jovem senhora entrou no apartamento, em que se realizava uma festa, acompanhada pelo marido. Enquanto a dona da casa lhes procurava um lugar, ela apontou na parede qualquer coisa, levou a mão à boca em sinal de decepção e espanto, exclamando: “Olha ali o meu espelho”! A dona da casa ouviu a frase, outras pessoas ouviram, e como não fossem muito íntimos, houve um desagrado geral na sala, um calor, sorrisos tortos.
A jovem senhora, como se fizesse um depoimento policial, contou uma história simples e bela. Aquele espelho estava em um antiquário da avenida Copacabana, não estava? Estava. Ela passava por ali todos os dias, a pé, de ônibus, de automóvel. Era um magnífico espelho, o cristal muito límpido, a moldura de um dourado velho sob a forma de uma roda de leme. O espelho custava caro, ela se enamorou do espelho, visitava-o todos os dias e pensava: “Amanhã eu vou tomar coragem e comprar esse espelho”. No dia seguinte, passava ansiosa pelo antiquário. Não, o espelho estava lá, e o fato de lá estar, acabou por insinuar-lhe o sentimento de que o espelho era seu, não era preciso comprá-lo. Levou três anos nessa posse lírica. E eis toda a história, sem falar na tarde em que o espelho desapareceu e entrou aflita na loja e perguntou infeliz ao empregado: “Onde está o meu espelho”?
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Estávamos em um restaurante. Enquanto os outros, indecisos ou meticulosos, escolhiam seus pratos, meu amigo Luís, sem sequer olhar o cardápio, ordenou decidido: “Quero um peito de frango”. Como estranhássemos tal convicção, ele explicou: “Em restaurante, só como peito de frango. É a coisa que eu mais gosto no mundo. Quando eu era criança, você sabe que menino não valia nada. Menino tinha que obedecer, comportar-se, e não abrir o bico. Era assim a educação antiga, não era? Pois bem, meus pais comiam o peito do frango e me deixavam de água na boca, certos de que estavam certos e me disciplinavam para a vida. Pois bem, cresci e me casei. Durante a lua de mel e poucos meses mais, comi frango à beça. Depois, começaram a vir os filhos. Mas aí, esse negócio de pedagogia já tinha mudado completamente. Já agora o direito é você dar o melhor para os filhos, não deixar que eles fiquem recalcados, etc., etc. É ou não é? Pois bem: meus filhos adoram peito de frango! ...
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A Quiromante ― Vejo uma coisa terrível em sua mão. Não devia falar, mas seu marido vai morrer de morte violenta... assassinado! ...
A cliente ― E eu vou ser absolvida?