Amigo nosso entrou em uma grande loja da rua do Ouvidor para examinar aparelhos de televisão. Ao primeiro sinal de que se interessava por um deles, o caixeiro, que o atendia, gritou para fundo da loja:

— Morel.

Morel aproximou-se, com um sorriso dentifrício, moreno, olhos verdes, cabelos edificados com brilhantina. Tinha a palavra fácil e insinuante:

— Este aparelho é realmente o melhor que o senhor poderia encontrar no Rio por esse preço. Aqui pra nós, dentro de três meses, o senhor poderá revendê-lo com um lucro de pelo menos 30 por cento. A imagem que ele obtém, por um processo novo de entrosamento interno, é pura e nítida, como se o senhor estivesse diante de uma fotografia de revista americana. A garantia que a nossa casa oferece é incontestavelmente superior à de todas as outras do gênero. Além do mais, por certos motivos comerciais que não posso revelar, o proprietário da loja fez realmente uma grande remarcação nos preços, barateando-os de 25 por cento. Bem, como o senhor dá a impressão de ser uma pessoa muito fina, vou dizer o que é: isso é por causa de uma questão de concorrência com a casa X. Eu lhe digo, com toda franqueza, que este é o aparelho que eu compraria. Aliás, é o aparelho que o patrão tem em casa.

E falou mais, muito mais. Abriu o aparelho, exaltou uma por uma de suas peças, passando em seguida a mostrar a superioridade do sistema de crédito da loja em que trabalhava.

O pretenso comprador, já convencido que fazia um excelente negócio, passou a encher uma ficha. 

— Sua graça, por obséquio — pergunta, de caneta na mão, o vendedor.

— Paulo de Sousa Marques. 

O vendedor levantou os olhos, com curiosidade:

— O senhor, por acaso, é parente do Efigênio Sousa Marques? 

— Sou sobrinho dele.

— Mas que coincidência! Pois a mulher dele é minha tia.

— Ah, muito prazer.

Registrou-se um cordial aperto de mão. O vendedor amassou a ficha, sorriu e disse:

— Bem, já que é assim, última forma em tudo que eu disse. Vamos sair pra outra. Em matéria de televisão, aquele aparelho é o maior “abacaxi” que já apareceu nesta praça.

 

Confidencial

Segundo nos confidenciou pessoa muito bem informada, a Comissão de Inquérito da Câmara de Deputados designou alguns funcionários para se postarem todas as madrugadas à porta das principais boates do Rio. Considerando que: 

a) o uísque, nessas casas, anda por um preço absurdo.

b) que um homem para se embriagar em uma boate precisa gastar uma fortuna.

Deliberou o seguinte: a) devassar os bens de todos que saem das referidas boates em estado de embriaguez; b) investigar que relações os referidos bêbados mantiveram com a CEXIM.

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