O amigo que me manda este questionário está fazendo um teste entre conhecidos – visando o quê, só Deus sabe. Pelo menos ele não o diz. Declarando as perguntas “estritamente pessoais e indiscretas”, exige ele que responda com poucos comentários, para “não disfarçar a sinceridade com conversa fiada”. A princípio me recusei a atender. Ele, porém, argumentou que o leitor adora questionários. Será verdade? Vamos ver.
1) P – Que pessoa, figura ou ideia lhe encheu a infância?
R – Meu pai, o Náutilus, um poema de Segundo Wanderley chamado “O naufrágio da Bahia”. Também houve o catalão, minha avó Rachel e o açude do Junco.
2) P – Qual o livro mais bonito que você leu em toda sua vida?
R – Foram vários. Sucessivamente: Viagens de Gulliver (seis anos), Robinson Crusoé (dez anos), Vinte mil léguas submarinas (doze anos), O dilúvio (quatorze anos), Whutering Heights – lido em francês sob o título de Les hauts de hurle-vent (dezesseis anos), Os Karamazov (dezoito anos). De lá para cá, não sei. Ou não digo.
3) P – Como você qualificaria o seu temperamento?
R – Não sei. Talvez possa dizer que sou uma pessoa triste e tímida. Sou, contudo, barulhenta. Mas ruído não é sinal de alegria, é antes sinal de medo.
4) P – É um espírito religioso? Se não, qual o motivo?
R – Falta o principal: a graça.
5) P – E em política? Qual o seu credo?
R – Sou socialista.
6) P – Por falar em política – tem ambições?
R – Essa respondo com segurança: nenhuma. Nem política, nem social, nem literária, nem nada. Às vezes ambiciono a morte.
7) P – Agora a pergunta infalível: se você não fosse quem é, o que desejaria ser?
R – Queria ser uma matriarca sertaneja cheia de filhos, netos e bisnetos. Como, por exemplo, minha avó Rachel, já citada. Certo tempo pensei que gostaria de ser atriz. Mas era engano.
8) P – Qual o seu herói predileto?
R – Creio que são dois: Ricardo Coração de Leão – belo e bruto, e São Luís, rei de França – o místico. Ambos cruzados.
9) P – Qual a figura da história com que mais antipatiza?
R – Homem, Napoleão. Mulher, Maria Stuart, rainha da Escócia.
10) P – Outra pergunta infalível: qual é seu defeito principal?
R – Principal não digo. Posso citar um deles, que é a preguiça.
11) P – E qualidade?
R – Acho que não tenho nenhuma qualidade importante.
12) P – Você perdoa inimigos?
R – Não. Sendo inimigo, por que perdoar?
13) P – Faz os seus amigos de preferência entre homens ou mulheres?
R – A gente não faz amigos – eles acontecem. É como o nascimento. Tanto pode ser homem como mulher.
14) P – Cite três nomes de amigos.
R – Nero Macedo, Alba Frota, Daniel Pereira.
15) P – Quais as pessoas cuja inteligência você mais aprecia? Cite duas.
R – Meu primo Pedro Nava. O Dr. Raul Fernandes.
16) P – Que pessoa você mais ama no mundo?
R – Ele sabe.
17) P – Você tem filhos?
R – Quase. Tenho Maria Luiza. Agora espero os netos.
18) P – E bichos? Você gosta deles?
R – Nunca vivi sem possuir um cachorro. Às vezes, vários. E gatos, cavalos, vacas. De ave, não gosto tanto. Possuí um papagaio que me abandonou – fugiu com um bando de papagaios selvagens, e uma graúna que, certo dia, amanheceu degolada, ao pé do coqueiro do quintal. Talvez por isso me desgostei.
19) P – A sua arte é a sua vida?
R – Deixe de pilhéria.
20) P – Enfim, você é uma pessoa feliz?
R – Não sei. Creio que não. Quem é feliz?