Chico Albuquerque/ Convênio Museu da Imagem e do Som - SP /Instituto Moreira Salles
Moça pobre de subúrbio carioca, a Thereza fez um pedido original à redação da Claudia, que naquele tempo – 1964 – se dispunha a realizar sonhos das leitoras: ao se casar, queria ter como padrinho seu cronista predileto, Paulo Mendes Campos, e que ele, ao pé do bolo, dissesse umas palavras. Pois bem, a noiva teve muito mais do que pediu: em vez de discurso, o padrinho leu na festa uma "Crônica para Thereza", em seguida publicada na revista, da qual era colaborador.
Fique desde já a recomendação (quase escrevo intimação): além dessa delicada crônica, vale conhecer toda a história que há por detrás dela. Resgatada em 2014 nas páginas do jornal O Estado de S. Paulo, pôde então o IMS entrevistar Thereza, tocante personagem falecida pouco tempo depois.
E já que viemos com ela ao departamento amoroso-matrimonial (especialmente ativo, sabemos, quando o mês é maio), torna-se impossível não recomendar também "Lua de mel", do mesmo PMC. Crônica ou poema em prosa? Qualquer que seja o rótulo escolhido, você terá acertado.
Ainda que o mês não fosse maio, em 1991 o faro jornalístico de Otto Lara Resende apanhou no ar uma tendência e a destilou em crônica: "A moda de casar". Depois de amargar longo declínio, a instituição casório lhe pareceu recobrar o antigo vigor. Delícia de leitura. Numa curva da conversa, uma revelação a respeito do traje matrimonial masculino inescapável no tempo – comecinho dos anos 1950 – em que Otto se casou: o semifraque, bem mais caro que um mero terno. No caso, um viajado semifraque, veterano de incontáveis noivos, pois volta e meia era pescado no guarda-roupa de Millôr Fernandes para enfatiotar amigos dele (Otto, por exemplo) na hora de dizer o “sim”. Se existir ainda, mereceria lugar de honra num museu da indumentária.
Mais elaborado que o semifraque do Millôr era por certo o traje matrimonial ao tempo de Francisco José de Matos, tataravô de Rachel de Queiroz. Na crônica "Amor e casamento" a escritora não desce – infelizmente – a tais pormenores; em compensação, transcreve a carta em que o pretendente solicita à amada, Florinda, que lhe passe o nome “por extenso” da futura sogra, à qual, também por carta, vai pedir a mão da filha. “Acolhei em vosso coração”, arremata (e arrebata-se) o moço, “os ternos respeitos da pura amizade que sinceramente vos prosterna o vosso fiel Amante”. Amante?! Que ninguém se escandalize com a palavra, designativa, ali, de “aquele que ama”, sem conotações carnais.
O largo espectro matrimonial não estaria completo sem menção às relações que, pelos mais variados motivos, vão a pique – entre elas, aquelas de que trata Antônio Maria em "Adultério e considerações". Ao maridos, quando “passados para trás ou para a frente”, o cronista aconselha “ficar quietinho”, sem jamais armar flagrante, para não “fazer o São Tomé, que sempre se deu mal na base do ‘ver para crer’”.
Nossa seleção contempla, por fim, em "A primeira mulher do Nunes", de Rubem Braga, a propósito de uma relação amorosa em que nada acontece, rigorosamente nada, e ainda assim capaz de seduzir o leitor e de acelerar o ritmo de ao menos um dos corações envolvidos. Decepcionante? Não mais que muita história de amor sacramentada nos conformes, com marcha nupcial e chuva de arroz, e que no entanto...