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5 abr 1952
Sartre
Rubem Braga
Correio da Manhã
Mataram você no Brasil, Jean-Paul Sartre. Soube da notícia entrando à tarde no bar em que multos amigos se encontram antes do jantar para tomar alguns uísques e bater papo. Vendo o jornal, logo o telegrama me pareceu suspeito, pois vinha de...
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31 mar 1951
A voz
Rubem Braga
Correio da Manhã
Essa história de uma senhora que encontrou o marido na rua na companhia de outra e o matou é, sem dúvida, o crime perfeito. É tão perfeito que sabemos tudo sobre ele: as palavras trocadas, os gestos, o local, a hora, os precedentes, as pessoas....
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24 ago 1951
A missão do anjo
Rubem Braga
Correio da Manhã
Matou-se Haroldo, um rapaz de 21 anos, operário. Deixou um bilhete que dizia assim: “Venho por meio deste participar o meu suicídio, e deixo essa taça como lembrança ao meu querido clube”. Nem nesse bilhete, nem em outro que deixou para sua...
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17 jun 1951
No bar
Rubem Braga
Correio da Manhã
Foi bom que eu viesse assim, cansado, meio obtuso, no fim da noite, e viesse como por acaso, entre outras pessoas. Foi boa essa conversa espalhada, sem importância, fútil. Era essencial não dizer nada: à força de falar coisas que não dizem...
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7 ago 1951
Teresinha
Rubem Braga
Correio da Manhã
No meio da noite comum do jornal um rapaz da redação perguntou-me — 15 anos — é menina ou senhorita? Estava redigindo uma nota social e me propunha esse problema simples. — Senhorita. Ele ficou meio em dúvida e eu argumentei: — Põe...
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[1987]
Vida
Rachel de Queiroz
Jornal da Barra
Do primeiro dia ao último, sempre essa ilusão, esse engano: você pensa que está vivendo – qual! – e todo o tempo você está morrendo. Ninguém vive, todo mundo apenas morre. Acontece somente que o processo de morrer é lento, e a esse...
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15 fev 1947
Uma carta
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
É uma dessas cartas que exigem resposta ― de uma moça de vinte e cinco anos chamada Aspásia e que, segundo o diz, sabe que vai morrer. Na verdade são duas coisas díspares vinte e cinco anos e a certeza da morte próxima. Mas afinal quem lhe...
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21 maio 1949
Um leito de hospital
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
O espetáculo é amargo: vê-se o pobre desgraçado, mais uma caveira do que um homem, os olhos fundos e de fogo, pertencendo já muito mais à morte do que à vida. E o queixume dele ainda é mais triste do que a figura: está assim, naquela...
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28 set 1946
Um caso obscuro
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Não quero fazer campanha contra quem acredita em espíritos, quem tem visões ou ouve “avisos”. Espiritismo é religião tão respeitável quanto qualquer outra. Quero apenas prevenir meu amigo leitor contra alguma conversão apressada, porque...
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29 dez 1951
Um ano de menos
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Ora, graças a Deus, lá se foi mais um. Um ano, quero dizer. Menos um na conta, mais uma prestação paga. E tem quem fique melancólico. Tem quem deteste ver à porta a cara do mascate em cada primeiro do mês, cobrando o vencido. Quando compram...
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10 nov 1956
Solidão
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
O homem está sozinho no seu quarto de hospital. Paga caro por aquele luxo que se chama apartamento privativo. Mas sozinho. E pensa. ― Não sabe se vai morrer, não sabe se vai ficar bom, não sabe sequer o que tem. Tiram-lhe sangue, tiram-lhe do...
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16 out 1948
Pensamentos de vida e de vivo
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Não, não te apiedes de quem morre. Porque a piedade supõe uma condição de superioridade e a gente só se pode compadecer de quem sofre mais do que nós. Porém saberás se não vais sofrer muito mais do que aquele que estás vendo morrer, se a...
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14 maio 1949
O mar
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
“Eu me lembro... eu me lembro... era E brincava na praia... O mar bramia E erguendo o dorso altivo sacudia A branca espuma para o céu sereno. E eu disse à minha mãe nesse momento:Que rude orquestra! Que furor insano! Que pode ser maior do...
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1 fev 1947
O homem nasce nu
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Nasce o homem nu e só depois é que se veste. Perde a nudez com a inocência; junto com a inocência perde a beleza, e como se sente feio e impuro, começa então a cobrir-se e a envergonhar-se. Isto não são invenções minhas, está na Bíblia,...
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17 out 1953
O homem morreu na serra
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Parecia uma borboleta espantada num cartão; os braços em cruz, as pernas espalmadas, pendurado de cabeça para baixo, na ribanceira a pique, sustido nos ombros por dois tocos rasos de arbusto, entre os quais o pescoço se metera. De longe já se...
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29 jun 1946
O garoto
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Outro dia o cronista de A Cigarra falou com muito espírito nas personalidades ilustres que ora habitam a Cidade Jardim Laranjeiras; e pelo que parece aquilo está ficando mesmo uma “Nova Arcádia Carioca”. Pois lá no Jardim Laranjeiras, no...
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7 maio 1949
Nasceu uma criança
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Nasceu gordo, chorão, pesando mais de três quilos. Traz consigo todos os sinais do triunfador futuro, e o pai já pensou em chamá-lo Cristóvão, pois parece que tão grande e tão forte há de repetir as infâncias do santo gigante e mais tarde,...
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20 set 1947
Gilda
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Hoje peço licença para fazer o necrológio de alguém que era minha amiga e na semana passada morreu de tifo. Não se chamava propriamente Gilda, mas Hermenegilda, e no acréscimo dessas três sílabas vai toda a diferença que a separava do...
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11 jun 1949
Epitáfio
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Cada tempo tem a sua moda e vê-se que já passou a moda dos epitáfios, tão cultivada em outras épocas mais românticas. Hoje, quem pode e quer mostrar sentimento esmaga os seus defuntos sob o peso do mármore, do granito e do bronze, ou...
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31 ago 1946
Bilhete de parabéns
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Meu prezado aniversariante: Você hoje completa 35 anos, e não quer ser festejado, e se afunda em obscuras melancolias, dizendo que não sabe para que nasceu nem para que terá vivido. É perguntar muito, indagar para que se vive, para que se...
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23 out 1948
A vida continua
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
É isto, companheiros: andei por fora menos de dois meses e se fosse espiritista diria que andei pagando o mal cometido em várias outras encarnações passadas, note-se que havia de ter sido mal mesmo péssimo, para exigir pagamento tão duro. É...
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