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3 mai 1952
Manhã
Rubem Braga
Correio da Manhã
“O governo é um corpo vivo e não um monumento de bronze sobre um pedestal”, disse o doutor Vargas. Em face do que desliguei o rádio e me entreguei à meditação, que só interrompi para ouvir o segundo tempo do jogo do Fluminense com os...
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18 jul 1952
O sol
Rubem Braga
Correio da Manhã
Amanheceu o mais claro sol no mais azul dos céus, o que, para um homem de bem que levanta cedo e abre sua janela, dá sempre uma impressão de festa, de maneira que meu amigo sentiu isso e disse de si para consigo, visto que no momento não...
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31 jan 1952
Floresta
Rubem Braga
Correio da Manhã
Esta povoação de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, hoje Curitiba, continua crescendo em força e beleza e se espraiando pelo seu planalto de 900 metros de altitude, onde fez, no último inverno, cinco graus abaixo de zero. Edifícios claros e...
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2 dez 1952
Domingo
Rubem Braga
Correio da Manhã
Zico, Domingo houve uma feijoada na casa do Simeão. Fazia calor, fazia calor e a gente comia feijão. Então Deus achou honesto que um grupo de brasileiros se juntasse num domingo, dia do Senhor, para comer feijoada na casa de um bom amigo. Sim,...
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21 jun 1952
Natureza
Rubem Braga
Correio da Manhã
Uma esquadrilha de aviões a jato passou assobiando, zunindo. Depois vieram aviões comuns, em formação, com seus motores roncando. Pareciam morosos como carros de boi. Os outros eram apenas alguns pontos negros no horizonte. Onde iriam com tanta...
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9 fev 1952
Exigências
Rubem Braga
Correio da Manhã
Mas não senhor, não exijo um palacete para morar, não penso sequer em uma casinha com um quintal onde coubessem ― suponhamos ― um mamoeiro e um cajueiro. O senhor que é corretor, que vive disso, de vender casas e terrenos, o senhor conhece...
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18 out 1952
A tarde
Rubem Braga
Correio da Manhã
Desde cedo soprara tão forte o noroeste com seu cheiro de mar, com seu ímpeto de espumas e de cavalos empinados, mas ele amainou antes do fim da tarde, e a tarde de repente ficou mansa. Tão mansa que as pessoas mais distraídas que iam pelas ruas...
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set 1952set 1952
Borboleta II
Rubem Braga
Correio da Manhã
Eu ontem parei a minha crônica no meio da história da borboleta que vinha pela rua Araújo Porto Alegre; parei no instante em que ela começava a navegar pelo oitão da Biblioteca Nacional.Oitão, uma bonita palavra. Usa-se muito no Recife; lá,...
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11 set 1952
Borboleta III
Rubem Braga
Correio da Manhã
Mas, como eu ia dizendo, a borboleta chegou à esquina de Araújo Porto Alegre com a Avenida Rio Branco; dobrou à esquerda, como quem vai entrar na Biblioteca Nacional pela escada do lado, e chegou até perto da estátua de uma senhora nua que ali...
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set 1952set 1952
Borboleta
Rubem Braga
Correio da Manhã
Era uma borboleta. Passou roçando em meus cabelos, e no primeiro instante pensei que fosse uma bruxa ou qualquer um outro desses insetos que fazem vida urbana; mas, como olhasse, vi que era uma borboleta amarela.Era na esquina de Graça Aranha com...
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28 ago 1951
Domingo
Rubem Braga
Correio da Manhã
Agosto morreu, mas, sejamos ou não trabalhistas, é preciso reconhecer que nunca o Rio teve um inverno tão lindo. Domingo passado quem quisesse pintar um quadro na Quinta da Boa Vista precisava da mão direita de Seurat e da canhota de Duffy. A...
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6 out 1951
Há muitos, muitos meses não chovia...
Rubem Braga
Correio da Manhã
Há muitos, muitos meses não chovia. O deus dos turistas desenrolava, incansável, sobre esta ilha colorida, a graça dourada do sol e o manto puro das noites azuis. Do alto de um terraço vi chegar o primeiro temporal da estação. Veio do norte,...
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30 ago 1951
Andando
Rubem Braga
Correio da Manhã
Deu um vento áspero, cheio de poeira e folhas secas: mas depois, já de tardinha, a rosa dos ventos girou, e então veio do sul um ar frio e úmido, que fez bem ao nosso focinho: desceu uma chuva mansa. Mas nesse dia aconteceu muita coisa: e para...
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10 fev 1951
Pescadores de sossego
Rubem Braga
Correio da Manhã
Haviam-me prometido pescadas soberbas e robalos deste tamanho, sem exagero; e até espadartes. Passamos o dia no barco e tudo o que matamos foi uma dúzia de humildes canguás. Eles visivelmente se esforçavam para conseguir se prender aos nossos...
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19 mai 1951
O céu
Rubem Braga
Correio da Manhã
Deitar na praia de noite, ficar olhando o céu, vendo as estrelas. Então a gente rumina vagas noções de astronomia e, com certeza, se lembra da infância, do amor, do destino. Não, isso eu não aconselho a você. Talvez seja bom que a gente se...
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16 mar 1951
Da fronteira
Rubem Braga
Correio da Manhã
Saímos cedo do Rio, mas em São Paulo temos de fazer fila. Estamos num país em que se faz fila para tudo, mas esta, pelo menos, é razoável: como o campo de S. Paulo esteve fechado durante algum tempo, somos nove aviões a esperar a hora de...
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25 jul 1951
A noite
Rubem Braga
Correio da Manhã
Aquela noite aconteceu que fui ao aeroporto. Chegava um avião de S. Paulo, isso me deu saudades, a noite estava linda e quando tenho 500 cruzeiros no bolso sou homem para tudo: embarquei assim, na raça, sem maleta nem escova de dentes. S. Paulo...
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29 abr 1951
Recado ao secretário
Rubem Braga
Correio da Manhã
Senhor secretário da Redação: Estou-lhe fazendo este bilhete para dizer que hoje não vai crônica. Não estou passando bem. Isto, aliás, é mentira. Estou muito bem; estou excelente. Só o que me atrapalha e aborrece é ter de escrever...
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26 ago 1951
Noturno
Rubem Braga
Correio da Manhã
Esse rio Acre, que corta a cidade de Rio Branco é, no mês de agosto, estreito e raso, correndo entre barrancos. Ao longo das margens a gente vê, sempre, a lavoura de vazante que o caboclo planta, principalmente o feijão de corda. Eu já havia...
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6 jul 1951
A árvore
Rubem Braga
Correio da Manhã
Há uma árvore morrendo na Gávea. É um flamboyant alto na frente de uma casa em reforma; parece que os pedreiros, inadvertidamente, formaram um monte de cal junto ao seu tronco. Suas folhas amareleceram, e ele definha rapidamente. Sua dona me...
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nov 1951nov 1951
Mormaço
Rubem Braga
Correio da Manhã
É o mormaço. Não há mais sol, nem chuva, nunca mais; não há sequer nuvens; há esse nublado geral, fosco e torpe. Nos melhores dias de sol, algumas semanas atrás, o céu não conseguiu ficar azul: uma bruma seca o esfumaçava; depois ela se...
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