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29 set 1971
O caso dos bem-te-vis
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Era um casal de bem-te-vis apaixonados. Voavam e pousavam, naquela primeira fase de amor de passarinho; namoro de asa e bico, entre o céu claro e a copa mais alta das árvores, aí tão parecido com namoro de gente – com a diferença de que gente...
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28 jun 1947
Lua
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
“Astro dos loucos, sol da demência,Vaga, notâmbula aparição!Quantos, bebendo-te a refulgência, Quantos por isso, sol da demência, Lua dos loucos, loucos estão”. (Raimundo Corrêa) O cachorro preto que vive no alto do morro endoideceu...
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7 out 1961
Iaiá no seu jardim
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
A janela de Iaiá dava para um pequeno jardim. Um pé de laranjeira, um pé de malva-rosa. Cobrindo a cerca alta, um jasmineiro todo estrelado de flores. Uma roseira de cacho. Touceiras de manjericão ao pé da parede; e, bem defronte à janela, na...
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Maio 1994
Fazenda velha e açude
Rachel de Queiroz
Jornal da Barra
Cartas de leitores me pedem de vez em quando para contar como é uma fazenda do Nordeste e, dentro da fazenda, o que é propriamente o açude. Diz um: pelo que lê nos nossos romancistas, o açude lhe dá a impressão de "ser o núcleo, o coração...
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[8 fev 1947]
Chuva
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Como chove neste Rio. Chuva miúda, chuva graúda, chuva inimiga, fria e molesta, que traz doença, catarro de peito, constipação da cabeça, tísica. Na cidade o asfalto parece um rio preto e aqui o barro vermelho vira uma lama pegajosa que mal...
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19 maio 1951
Choveu!
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Nem mais como tema literário serve ainda esse assunto de seca. Já cansou quem escreve, cansou quem lê e cansou principalmente quem o sofre. Parece mesmo que cansou o próprio Deus Nosso Senhor, pois que afinal, repetindo um gesto sucedido há...
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2 mar 1957
Açude na serra
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Talvez me digam que o tema destas notas, por estritamente regional, não deveria ser tratado nas páginas de O Cruzeiro, revista nacional e internacional. Mas eu contesto que sim, que o assunto embora tratando de Baturité, no coração do Ceará,...
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7 dez 1952
O sol funciona esplêndido...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
O sol funciona esplêndido sobre a praia de Ipanema. O espaço se abre larga, largamente. Custa supor que a existência se distribui, cotidiana, em guichês, em escritórios, repartições, filas, cemitérios da vida. A epiderme se satisfaz de si...
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18 nov 1951
Os dias se alongam...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Os dias se alongam, os crepúsculos têm mais cores, e ouvimos nas tardes o que um escritor de expressões certas chamou o esporro das cigarras. Os tons se tornam mais nítidos e intensos, ampliados no ar pesado e claro. O excesso de luz torna os...
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4 nov 1961
Um homenzinho na ventania (Fim)
Paulo Mendes Campos
Manchete
A mão da mendiga trouxe de um lugar oculto nas dobras da saia encardida um pão pequeno, um pão bonito e puro. "Qué?" Tá quente ainda, bobo. Comprei agorinha mesmo." O gesto de oferta ficou paralisado. "Pega; tou com fome nada." O homenzinho...
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28 out 1961
Um homenzinho na ventania (2)
Paulo Mendes Campos
Manchete
O homenzinho apanhou o vidro e reiniciou a viagem de volta, arrastando-se. Vibrava a amendoeira na torrente aérea. Através da lente sentiu o alívio de ver o mundo retornar a uma relativa nitidez. Mas a porta da boate se abriu e o leão de...
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21 out 1961
Um homenzinho na ventania (1)
Paulo Mendes Campos
Manchete
“O carioca teve ontem uma pequena mostra do que é um furacão”O homenzinho era pacato e triste, letra K. Embriagava-se raramente. Era fraco e pobre, mas de certas manhas atrás da timidez. Morava na Glória, tinha filho de quinze anos e mulher...
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14 jan 1961
Dois pensamentos na praia
Paulo Mendes Campos
Manchete
O sol funciona esplêndido em cima da praia. Abre-se o espaço largamente. Custa admitir que a vida se cava em escritórios tristonhos, nas jaulas dos guichês, repartições, filas, cemitérios do homem. Amo esta distância verde, este cheiro de...
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23 maio 1959
Sobrevoando Ipanema
Paulo Mendes Campos
Manchete
Era uma quinta-feira de maio e a gaivota vinha do lado das Tijucas, em voo quase rasante sobre a falésia da avenida Niemeyer, suas longas asas armadas na corrente aérea que virava do sul, lenta, levando o seu corpo leve e descarnado, seu esqueleto...
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5 nov 1992
Sonetos e jabuticabas
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
Calma, que o Brasil é nosso. Não sei de onde vem esta expressão, que não ouço há tempos. À falta de quem a diga, digo-a eu, sem que tenha a ver com a onda de privatização, quero dizer. Seu objetivo, como hoje se diz, é agilizar o Estado. A...
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7 maio 1992
Por baixo e por cima
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
Há tempos que eu não aparecia por aquelas bandas. Região privilegiada, rica, riquíssima, começou com o ouro. Onde aparece o ouro, fica assim de gente. Mas por mais abundante que seja, o ouro acaba. Na Califórnia, o ouro acabou, mas não acabou...
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14 ago 1992
O teste da rosa
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
Digamos que você tem uma rosa. Uma só. Antes que eu continue, ela me interrompe: de que cor? Pensei na rosa, mas não pensei na cor. Cor-de-rosa, digo. Ela faz uma carinha de quem não aprova. Rosa cor-de-rosa, que falta de imaginação!...
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7 out 1991
O que diz o vento
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
RIO DE JANEIRO — Para o Brasil chegar afinal ao Primeiro Mundo, só falta vulcão. Uns abalozinhos já tem havido por aí, e cada vez mais frequentes. Agora passa por Itu esse vendaval, com tantas vítimas e tantos prejuízos a lastimar. Alguns...
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21 fev 1992
O que diz o mar
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
RIO DE JANEIRO — Outro dia, era de noite, saí da Gávea, em plena zona sul do Rio de Janeiro, e de repente entrei em Londres. Ou numa São Paulo de antigamente que, presumo, não existe mais. A rua estava embrulhada num denso nevoeiro que mal me...
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11 jul 1991
O outro foi melhor
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
RIO DE JANEIRO — Hoje é dia de eclipse. Como a natureza é pontual, o espetáculo tem hora para começar e acabar. Não quero contar vantagem, mas tenho alguma experiência no ramo. Acompanhei como repórter o eclipse de 7 de maio de 1947. Sem...
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10 set 1992
Nova, com licença
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
Está difícil encontrar quem se interesse pela Lua. Não pela sua conquista, coisa de astronauta. Tampouco interesse utilitário, ainda que legítimo. Tipo lavoura, se está na hora de plantar. Ou só para saber se vai dar praia amanhã. Mas Lua....
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