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4 jun 1949
Feira livre
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Talvez seja a feira livre um dos mais seguros sintomas de que o homem metropolitano se considera de fato um exilado; toda vez que pode, trata de fugir à civilização, ao progresso, aos triunfos técnicos da cidade grande, e se atira com delícias...
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18 dez 1954
Esplanada da Glória
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Ali era mar, possivelmente mangue, como toda a orla ainda intocada da baía. No tempo de D. João VI os barcos abicavam ao pé do outeiro da ermida, e maré lambia os seus contrafortes. Depois, nesta angústia de espaço, em que nos debatemos no...
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17 jun 1950
Dona Noca
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Quem me apresentou a dona Noca foi dona Inês Corrêa de Araújo, pernambucana de velha estirpe, mulher de cultura que — coisa rara — tem sabido dar oportunidade a essa cultura; career-woman de vontade férrea e tremenda capacidade de trabalho,...
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[23 jun 1956]
Amor traído
Rachel de Queiroz
O Cruzeiro
Confesso, confesso: errei, sim. Errei propriamente não é a palavra – digamos que traí. Ou antes que estou traindo. Ilha dos meus velhos amores, querida Paranapuã, vou te dar adeus. Amores são assim inexplicáveis, eles vão e eles vêm. Se...
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16 set 1952
Hoje conto um caso...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
É bom que um homem vez por outra deixe o litoral misterioso e grande, querendo contemplar uma lagoa. O mar, este é terrível e resiste à nossa sede com seu sal profundo. Sim, são belas as palavras do mar: hipocampo, sargaço, calmaria. Oceanus!...
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13 nov 1957
De repente
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
E de repente, caminhando nesse dia de novembro, atribulado de deveres, no ano trigésimo quinto de minha história confusa e malbaratada, quando todas as amarguras já bebi, nem de todo sábio, nem de todo bobo, não tendo outro propósito no...
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17 nov 1954
No domingo de manhã...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
No domingo de manhã, a moça estrangeira, que acabara de chegar ao Rio, telefonou para dizer que aproveitaria o dia para visitar as vistas da cidade. À tarde, fomos assistir ao futebol. O campo do Botafogo, para quem está dentro do estádio,...
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17 out 1954
Depois de muitos dias...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Depois de muitos dias de névoa seca, vieram as chuvas. Fazia um friozinho de inverno em país tropical ou de começo de outono em país temperado. Quinta-feira o dia deu novamente em chuvoso, com as nuvens escuras ameaçando um fim de semana...
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19 fev 1953
Petrópolis
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Uma senhora vendeu a sua casa, ótima casa, a um senhor alemão. Trata-se de terreno em um parque residencial na estrada União Indústria. Ora, as posturas municipais exigem no contrato uma cláusula proibindo aos moradores a criação de animais...
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6 jan 1953
Se há coisa que me emociona...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Se há coisa que me emociona desde a minha infância é um sujeito jogar bem futebol. Foi feliz que saí domingo do Maracanã, a rever no Cineac da memória as jogadas incríveis de Zizinho, a malemolência de suas fintas de corpo, seus passes...
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3 jul 1952
O silêncio é a boa educação...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
O silêncio é a boa educação das cidades. O Rio é uma cidade grosseira porque é barulhenta. * A morte, pelo menos, deve ser silenciosa. Se os residentes do São João Batista ouvem o tráfego de Botafogo, morrer é uma coisa monstruosa. Com...
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25 jan 1952
Era um bonde cheio...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Era um bonde cheio, vindo pela rua Sete de Setembro, um pouco depois de seis horas. Nele viajavam dois jornalistas.Em uma das paradas, um problema entrou no bonde, um problema na figura de um homem de idade, uma figura até bastante digna e austera....
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15 nov 1951
E a cidade que se chamava...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
E a cidade que se chamava Rio de Janeiro, sem ter conhecido a penúria da guerra dentro de suas portas, e a desolação de bombardeios inimigos no céu, começou a apodrecer. 2. E os seus moradores foram expostos a muitas provações, e as suas...
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5 fev 1989
Rio de fevereiro
Paulo Mendes Campos
Jornal do Brasil
O calendário não pegou no Rio. O ano efetivo carioca tem a duração de nove meses. É o máximo de tempo-responsável que a nossa tribo suporta. Depois de nove meses de gestação, as cucas de nossos tamoios perdem a consistência, sofrem...
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19 maio 1973
Seis sentidos
Paulo Mendes Campos
Manchete
É boa para os olhos. Nas outras cidades grandes, onde não devia haver nada, há um monturo de edificações; em Brasília, onde não deve haver nada, não há nada. Descansa os olhos. Possui as riquezas elementares que foram mutiladas nos grandes...
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8 out 1966
Réquiem para os bares mortos
Paulo Mendes Campos
Manchete
Me perdia muito pelas grutas sombrias dos bares. À noite, conchas iluminadas, a ressoar em profundezas submarinas. Hoje sou um homem derramado. Fugindo à tempestade, entrei uma vez no Nacional, e lá se erguia – portentosa figura – um velho,...
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13 jun 1964
Rua da Bahia
Paulo Mendes Campos
Manchete
A vida é esta, descer Bahia e subir Floresta. Quem não morou em Belo Horizonte, ao ouvir o mineiro suspirar num momento de cansaço e bobice – a vida é esta, descer Bahia e subir Floresta – não entende nada, e não entende errado,...
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9 jul 1960
Minhas janelas
Paulo Mendes Campos
Manchete
Em geral as pessoas possuíram automóveis e se recordam de todos eles. Eu possuí janelas e ajuntei para a lembrança um sortido patrimônio de paisagens. Minha primeira providência em casa nova é instalar meus instrumentos de trabalho ao lado...
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21 nov 1959
As horas antigas
Paulo Mendes Campos
Manchete
– Menino, vai perguntar à tua mãe se quer comprar dobradinha. Em latas de banha de cinco quilos, a estranha coisa (não sabia o que era e se me afigurava vagamente obsceno) era coberta com folhas de bananeira. – Hoje não – respondia da...
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23 maio 1959
Sobrevoando Ipanema
Paulo Mendes Campos
Manchete
Era uma quinta-feira de maio e a gaivota vinha do lado das Tijucas, em voo quase rasante sobre a falésia da avenida Niemeyer, suas longas asas armadas na corrente aérea que virava do sul, lenta, levando o seu corpo leve e descarnado, seu esqueleto...
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11 set 1991
Suspense carioca
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
A esta altura do ano, o dia ainda está frio. Vou dar uma volta para desenferrujar as pernas. Na farmácia, vejo que os preços voam alto. Aumento de 100% num frasquinho de nada. O balconista sorri. É isso aí. Nem dá mais vontade de comentar. O...
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