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17 out 1954
Depois de muitos dias...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Depois de muitos dias de névoa seca, vieram as chuvas. Fazia um friozinho de inverno em país tropical ou de começo de outono em país temperado. Quinta-feira o dia deu novamente em chuvoso, com as nuvens escuras ameaçando um fim de semana...
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19 fev 1953
Petrópolis
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Uma senhora vendeu a sua casa, ótima casa, a um senhor alemão. Trata-se de terreno em um parque residencial na estrada União Indústria. Ora, as posturas municipais exigem no contrato uma cláusula proibindo aos moradores a criação de animais...
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6 jan 1953
Se há coisa que me emociona...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Se há coisa que me emociona desde a minha infância é um sujeito jogar bem futebol. Foi feliz que saí domingo do Maracanã, a rever no Cineac da memória as jogadas incríveis de Zizinho, a malemolência de suas fintas de corpo, seus passes...
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3 jul 1952
O silêncio é a boa educação...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
O silêncio é a boa educação das cidades. O Rio é uma cidade grosseira porque é barulhenta. * A morte, pelo menos, deve ser silenciosa. Se os residentes do São João Batista ouvem o tráfego de Botafogo, morrer é uma coisa monstruosa. Com...
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25 jan 1952
Era um bonde cheio...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
Era um bonde cheio, vindo pela rua Sete de Setembro, um pouco depois de seis horas. Nele viajavam dois jornalistas.Em uma das paradas, um problema entrou no bonde, um problema na figura de um homem de idade, uma figura até bastante digna e austera....
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15 nov 1951
E a cidade que se chamava...
Paulo Mendes Campos
Diário Carioca
E a cidade que se chamava Rio de Janeiro, sem ter conhecido a penúria da guerra dentro de suas portas, e a desolação de bombardeios inimigos no céu, começou a apodrecer. 2. E os seus moradores foram expostos a muitas provações, e as suas...
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5 fev 1989
Rio de fevereiro
Paulo Mendes Campos
Jornal do Brasil
O calendário não pegou no Rio. O ano efetivo carioca tem a duração de nove meses. É o máximo de tempo-responsável que a nossa tribo suporta. Depois de nove meses de gestação, as cucas de nossos tamoios perdem a consistência, sofrem...
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19 maio 1973
Seis sentidos
Paulo Mendes Campos
Manchete
É boa para os olhos. Nas outras cidades grandes, onde não devia haver nada, há um monturo de edificações; em Brasília, onde não deve haver nada, não há nada. Descansa os olhos. Possui as riquezas elementares que foram mutiladas nos grandes...
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8 out 1966
Réquiem para os bares mortos
Paulo Mendes Campos
Manchete
Me perdia muito pelas grutas sombrias dos bares. À noite, conchas iluminadas, a ressoar em profundezas submarinas. Hoje sou um homem derramado. Fugindo à tempestade, entrei uma vez no Nacional, e lá se erguia – portentosa figura – um velho,...
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13 jun 1964
Rua da Bahia
Paulo Mendes Campos
Manchete
A vida é esta, descer Bahia e subir Floresta. Quem não morou em Belo Horizonte, ao ouvir o mineiro suspirar num momento de cansaço e bobice – a vida é esta, descer Bahia e subir Floresta – não entende nada, e não entende errado,...
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9 jul 1960
Minhas janelas
Paulo Mendes Campos
Manchete
Em geral as pessoas possuíram automóveis e se recordam de todos eles. Eu possuí janelas e ajuntei para a lembrança um sortido patrimônio de paisagens. Minha primeira providência em casa nova é instalar meus instrumentos de trabalho ao lado...
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21 nov 1959
As horas antigas
Paulo Mendes Campos
Manchete
– Menino, vai perguntar à tua mãe se quer comprar dobradinha. Em latas de banha de cinco quilos, a estranha coisa (não sabia o que era e se me afigurava vagamente obsceno) era coberta com folhas de bananeira. – Hoje não – respondia da...
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23 maio 1959
Sobrevoando Ipanema
Paulo Mendes Campos
Manchete
Era uma quinta-feira de maio e a gaivota vinha do lado das Tijucas, em voo quase rasante sobre a falésia da avenida Niemeyer, suas longas asas armadas na corrente aérea que virava do sul, lenta, levando o seu corpo leve e descarnado, seu esqueleto...
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11 set 1991
Suspense carioca
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
A esta altura do ano, o dia ainda está frio. Vou dar uma volta para desenferrujar as pernas. Na farmácia, vejo que os preços voam alto. Aumento de 100% num frasquinho de nada. O balconista sorri. É isso aí. Nem dá mais vontade de comentar. O...
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4 jun 1992
Sonho e pesadelo
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
A longa viagem, a noite mal dormida e a escala em São Paulo, finalmente o Galeão, no Rio. Entrei no táxi meio zumbi. Não foi cochilo, nem sono. Quando dei por mim, olhei pela janela e o táxi voava. Quedê a avenida Brasil? A paisagem estava...
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28 set 1992
Sim, não, talvez
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
Só na aparência a pergunta é simples. Que é que move um deputado? No fundo, é como indagar o que move qualquer um de nós. Justifica-se a curiosidade, nesta hora em que se joga o destino do país. Se me detiver na análise do que colheu a...
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15 ago 1991
Réquiem para dois rapazes
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
RIO DE JANEIRO — Fiquei impressionado, impressionado é pouco, fiquei comovido com o velório e o enterro do Douglas. O irmão mais velho, Domingos, disse umas poucas palavras. Sua sóbria presença acentuava a solidão daquela sombria cerimônia...
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25 out 1992
O primeiro tiro
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
RIO DE JANEIRO — Contei outro dia a um grupo de jovens que morei seis anos numa rua que não tinha luz. Digamos que estou exagerando. Cinco anos. Ou quatro. Sem uma única lâmpada. Aqui no Rio de Janeiro. Sim, senhor. Na freguesia da Gávea, como...
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25 dez 1991
Manjedoura carioca
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
A praça se chama Sagrada Família. Se está pensando que eu inventei, pode passar lá e ler a placa. Hélio Pellegrino e eu nos sentávamos num banco de manhã e tome conversa fiada. Ele gostava muito de distinguir os vários verdes das folhas. Um...
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19 jun 1992
Entre lobo e cão
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
Entretido no bate-papo, mal reparei na turbulência. Só quando pisei fora do aeroporto é que me dei conta de que o tempo tinha mudado. Qualquer coisinha e a gente se distrai. Também pudera. O Brasil de novo nesse sufoco, difícil olhar em torno....
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24 jan 1992
Cota zero
Otto Lara Resende
Folha de S.Paulo
RIO DE JANEIRO — Outro dia mesmo, o crescimento da população era motivo de orgulho. Quando o Rio chegou a um milhão de habitantes, foi uma festa. Deu até manchete. Era aqui a capital da República. O projeto de uma capital lá no fundo do...
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